Rebeldes paulistas, voluntários de Avaré
Gesiel Júnior
Quem conhece os voluntários de Avaré? Pouca gente hoje se recorda dessas corajosas figuras, homens e mulheres, na maioria civis, os quais aderiram ao Movimento Constitucionalista que está a completar oito décadas de sua deflagração.
Por São Paulo, a bandeira da luta armada foi erguida a favor de uma Constituição democrática, pois o Brasil estava sendo governado sem lei desde o fim da República Velha, em 1930.
Nos oitenta e cinco dias (de 9 de julho a 2 de outubro de 1932) de duração do conflito houve disputa encarniçada e selvagem. No Vale do Paranapanema, muito sangue derramou-se nas terras de Itaí e Taquarituba até a divisa com o Paraná.
Em Avaré combates não houve, mas a cidade sediou um dos comandos revolucionários, cujo quartel era o prédio do 1º Grupo Escolar (atual Escola Matilde Vieira). E no campo da Associação Athletica Avareense (antiga Chácara Santana) os soldados recebiam treinamentos para o combate.
O emocionalismo empolgou a população pelo rádio e quem não ia ao “front” cooperava, até os mais simples, doando seus objetos de valor e principalmente ouro para financiar a guerra, recebendo em troca um anel de ferro, símbolo do movimento.
PELA HONRA – Dezenas de avareenses se alistaram e enquanto alguns foram arregimentados em Itararé, como o dentista Romeu Bretas e o universitário Antônio Ferreira Inocêncio (ambos futuros prefeitos), outros combateram no centro do Estado, caso do advogado Cory Gomes de Amorim, depois eleito deputado constituinte em 1934.
“Alistei-me para servir São Paulo contra a ditadura. Foi uma honra. Combati nas trincheiras do Sul e entrei no Paraná. Precária era a nossa situação, pois só comíamos chuchu e mandioca”, relatou Agenor Ignácio, um dos herois voluntários.
Até ministros religiosos estiveram nas atividades revolucionárias, dentre eles o bispo de Botucatu, dom Carlos Duarte da Costa, e o pároco de Avaré, padre José Fernandes Tavares. O primeiro formou um batalhão e o segundo serviu de capelão com a patente de tenente das tropas do Sul.
MMDCA - Chamado de revolução, ainda que impropriamente na visão de historiadores, o movimento de 1932 foi o maior choque civil na crônica do Brasil contemporâneo.
“O episódio permanece envolto até hoje em brumas emocionais, intrigas políticas, ressentimentos e disputas ideológicas que dificultam o seu entendimento”, avalia a pesquisadora Cecília Prada.
Com a ruptura da política do café-com-leite (alternância de poder entre as elites paulista e mineira), a classe dominante de São Paulo exigia do ditador Getúlio Vargas – maior participação nas decisões federais. Diante da negativa do caudilho gaúcho, os paulistas se mobilizaram pelo retorno imediato do país ao estado de direito. Cafeicultores, industriais, juristas e estudantes se juntaram nessa causa.
O estopim da revolta foi a morte de cinco jovens no centro da Capital, pertencentes à Legião Revolucionária, assassinados a tiros por partidários do getulismo em 23 de maio daquele ano: Martins, Miragaia, Dráusio (de apenas 14 anos!), Camargo e Alvarenga, cujos nomes deram origem à sigla MMDCA.
A luta, porém, foi desigual. São Paulo contava com 35 mil homens em seus regimentos e o exército getulista, bem equipado, somava mais de 100 mil soldados. O conflito cessou com a rendição dos paulistas em outubro. Morreram mais de oitocentos combatentes, sendo três quartos desse número, baixas constitucionalistas, embora estimativas extraoficiais falem em mais de mil mortos.
Heroísmo esquecido
Ainda não existe um registro preciso do número de avareenses que combateram em 1932.
Nos registros jornalísticos da época aparecem vários nomes ligados à cidade, dentre os quais: Agenor Evangelista do Prado, Agenor Inácio, Agenor Ramos, Alcides Benedicto Domiciano, Aníbal Righi, Antônio Alves, Antônio Ferreira Inocêncio, Antonio Irineu Bueno, Antônio Forte, Álvaro Filgueiras, Arthur de Carvalho, Argemiro Olivieri, Augusto Barreira, Benedito Teles, Cory Gomes de Amorim, Custódio Balbino, Emílio Francisco da Silva, Francisco de Souza Mendes, Germinal Serrador, Indalécio Dias Batista, João de Matos Mendes, João Ferreira Inocêncio, João Pinto de Oliveira, João Ribeiro de Souza, José Braz do Amaral, José de Góes Manso Sayão Júnior, José Durvalino de Souza, José Francisco dos Santos, José Leme, José Maria dos Santos Fontainha, José Maria Porto, José Pereira da Silva, José Piagentini, José Queiroz Maia, Laurindo Justo de Oliveira, Lúcio Aureliano de Lima, Laudelino Rodrigues da Mota, Manoel Gonçalves de Oliveira Santos, Marcelo Joaquim de Campos, Marcionolo de Campos, Mário Vieira de Almeida, Norberto Cardoso, Oscar Lins de Santana, Paschoal Bocci, Paulo Bastos Cruz, Romeu Bretas, Sebastião Munhoz, Sebastião Tavares de Albuquerque e Victor Antônio de Moraes.
Na “Casa do Soldado” montada no extinto prédio da Beneficência Portuguesa, na Rua Goiás, mulheres prestaram serviços de enfermaria e de costura de fardamentos e agasalhos para os voluntários. Destacaram-se neste setor Anna Odila Moura Leite, Anita Ferreira De Maria, Beatriz Nogueira do Valle, Cirene Flávia Gianoni, Luzia Porto Menezes e Olímpia Areão.