Quadro de Djanira escapou de ser destruído em atos terroristas em Brasília
legenda: Obra 'Orixás' é da pintora Djanira da Motta e Silva, de Avaré (SP).
Fonte da Foto: Internet - IlustrativaO quadro "Orixás", de uma artista de Avaré (SP), retirado do Salão Nobre do Palácio do Planalto, em Brasília (DF), durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), "escapou" de ser vandalizado por atos terroristas após ser levado a uma exposição no Museu Nacional da República.
A recolocação da obra, divulgada pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, ocorrerá após o fim da exposição "Brasil Futuro: As Formas da Democracia", em 26 de fevereiro.
A obra da pintora Djanira da Motta e Silva (1914-1979) foi "salva" de ser destruída por golpistas que invadiram o Palácio do Planalto, no último domingo (8). Ao g1, o biógrafo da artista, Gesiel Júnior, comemorou o destino "irônico".
"Acabou sendo salva do risco de ser atacada por essa gente enlouquecida. Isso nos envergonha, principalmente para [quem está] fora do país."
Medindo 3,61 metros de largura por 1,12 metro de altura, "Orixás" foi pintado por Djanira em 1966 e teria valor estimado atualmente entre R$ 1 milhão e R$ 4 milhões. O quadro retrata três orixás, sendo que, ao lado das divindades, há duas filhas de santo.
"Se você ver o que aconteceu com a obra de Di Cavalcanti... O fato de não ter voltado ao Salão Nobre fez com que a pintura de Djanira ['Orixás'] fosse 'poupada'", comenta Júnior, ainda que com tristeza.
Segundo o biógrafo, o Palácio do Planalto abriga outras duas obras de Djanira da Motta e Silva: "Praia do Nordeste" e "Bananal". "Além desta obra ['Orixás'], que ficava no Salão Nobre, há mais duas pinturas na sala de despacho da Presidência da República, que não foram danificadas", comenta.
O ataque às telas e esculturas do Palácio do Planalto é visto com desaprovação por Gesiel Júnior, que lamenta as perdas para a arte nacional.
"A gente vê com vergonha e tristeza, infelizmente é um ataque à arte brasileira. Quem fez isso não tem noção. Você pode manifestar, mas não atacar e destruir. Quem sofre é a arte brasileira."
Arte nacionalista
Segundo o biógrafo, as obras de Djanira expressavam características sociais do povo brasileiro. "Ela [Djanira] pensava o Brasil, independente das diferenças ideológicas, queria um Brasil mais justo, por isso valorizava os trabalhadores, criava uma arte genuinamente brasileira", destaca.
O escritor brasileiro Jorge Amado descreveu, em uma exposição, a obra de Djanira como fragmentos do Brasil. "Djanira traz o Brasil em suas mãos, sua ciência é a do povo, seu saber é esse do coração aberto à paisagem, à cor, ao perfume, às alegrias, dores e esperanças dos brasileiros."
"Ali, independente das diferenças, naquele quadro está representado um pouco da alma do brasileiro", finaliza Gesiel.
Por Matheus Arruda, g1 Itapetininga e Região