Paróquia mais antiga de Avaré completa 150 anos
legenda: Paróquia sesquicentenária 1870 - 2020 - Bico-de-pena da Capela do Major, foto da primeira Igreja Matriz em 1916, o largo da Matriz em 1936 e o atual Santuário
Foto Fonte: Divulgação/ArquivoGesiel Júnior
Especial para A Comarca
Neste 7 de abril de 2020 a mais antiga comunidade paroquial de Avaré – a do atual Santuário de Nossa Senhora das Dores – completou sem nenhuma comemoração o sesquicentenário de sua criação.
Para compreender melhor é preciso voltar no tempo. Em 7 de abril de 1870, a Lei Provincial nº 63 transformou o Distrito Policial do Rio Novo – como era então identificada a localidade – em freguesia civil ou distrito de paz. Passou o lugar a ser sede de uma igreja paroquial que também servia para a administração civil.
Nesse tempo, a Igreja Católica era a religião oficial do Império. As freguesias (nomes como eram identificadas originalmente as paróquias), embora tivessem caráter religioso, eram criadas pelo governo imperial. Assim, os povoados se tornavam fregueses da Igreja e trabalhadores do estado.
A propósito, em virtude de privilégios papais transmitidos da coroa portuguesa ao Império do Brasil, no chamado regime do padroado, acordo firmado com a Igreja Católica que dava ao imperador poder político para indicar bispos, cônegos e párocos, a seguir nomeados pela Santa Sé.
Com efeito, a criação de freguesias também era atribuição do poder civil, cumprindo à Igreja, salvo em casos de abusos políticos, cuidar de sua instituição canônica.
Com a elevação de um povoado (arraial) à condição de freguesia, o templo católico era a construção mais destacada ao centro de uma quantia pequena de casas, com umas poucas ruas e becos completando a paisagem.
No caso do arraial do Rio Novo, uma capela votiva teve a sua construção concluída no dia 28 de maio de 1861, segundo antigos registros. A 10 de junho do mesmo ano, a humilde ermida foi solenemente aberta com a primeira missa rezada pelo vigário de Botucatu.
Mais tarde, a 13 de janeiro de 1869, instaurou-se o processo canônico para a constituição definitiva do Patrimônio de Nossa Senhora das Dores do Rio Novo na Câmara Eclesiástica de São Paulo.
Para isso, os fundadores formalizaram a doação de glebas de terras através da entrega de um patrimônio referente ao orago, ou seja, santo de devoção do doador. No caso de Avaré, antiga Rio Novo, Nossa Senhora das Dores.
Nessa data, os principais fundadores fizeram as seguintes declarações ao Cartório de Botucatu: o major Vitoriano de Souza Rocha, de 83 anos, relatou ter nascido em Bragança Paulista. Sua esposa Gertrudes Cardoso de Oliveira declarou estar com 73 anos e ser também bragantina. Já o alferes Domiciano José de Santana declarou-se com 73 anos e ser natural de Mogi das Cruzes, enquanto sua mulher, Gertrudes Maria da Luz, estar com 63 anos e ser natural de Mogi Mirim.
Deu-se, pois, há exatos 150 anos, o começo da história da primeira paróquia de Avaré, cujo território desmembrou-se da Freguesia de Nossa Senhora de Sant’Ana do Cimo da Serra, de Botucatu.
Como o Bispado de São Paulo estava sem titular, ao vigário capitular, cônego Joaquim Manoel dos Santos de Andrade, coube assinar o ato de ereção canônica da nova freguesia, cuja instalação deu-se no dia 9 de agosto de 1870 com a posse do primeiro vigário encomendado, o sacerdote italiano Antônio Mainieri.
Logo depois, padre Mainieri foi festivamente recebido na nova freguesia no dia 21 de agosto e cuidou de pleitear a ordem episcopal para criar a Irmandade de Nossa Senhora das Dores, canonicamente constituída dois meses depois e que teve como primeiro provedor o imigrante espanhol Antônio Bento Alves, na época um dos latifundiários da região.
Criada a paróquia o Rio Novo teve a assistência espiritual da Igreja, bem como o amparo e a proteção do estado com reconhecimento no seu desenvolvimento socioeconômico.
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Gesiel Júnior, cronista e pesquisador, é autor de 40 livros sobre a história de Avaré e região.
Os párocos que marcaram época
Monsenhor Celso e padre Almirtiveram
os paroquiatos mais longos
Pelo menos, trinta padres ocuparam a função de condutores espirituais da mais antiga igreja de Avaré ao longo dos seus 150 anos. Houve italianos e portugueses, um negro, um que foi prefeito e alguns educadores, sendo que a maioria se desdobrou para guiar o primeiro rebanho católico da região. Aliás, a Paróquia de Nossa Senhora das Dores cedeu terras para formar as paróquias de Cerqueira César, em 1925, e a de Arandu, em 1985. No limite urbano, do seu território original foram desmembradas áreas para a criação das paróquias de São Benedito (1960), Nossa Senhora de Fátima (1986), São Judas Tadeu (1998) e Santo Expedito (2018).
Personalidade inesquecível, monsenhor Celso Diogo Ferreira (1903-1998) foi quem ficou mais tempo à frente da paróquia, tendo ele concluído a construção da igreja matriz, fundado uma escola e criado um orfananto. Por 34 anos, entre 1935 e 1969 marcou a história do catolicismo avareense. Ele teve como coadjutor, entre 1935 e 1936, uma figura que se projetou na hierarquia: dom José Melhado Campos, que foi bispo de Lorena e de Sorocaba.
Predecessores também escreveram capítulos eclesiais interessantes, como o padre mineiro José Messias de Aquino que, entre 1910 e 1913, além da função religiosa ingressou na política, elegeu-se vereador e ocupou a prefeitura por dois meses.
Missionário português, o padre José Fernandes Tavares, que hoje dá seu nome ao largo da igreja, inaugurou a primeira fase da igreja atual e é lembrado por ter combatido na Revolução de 1932 como capelão das tropas constitucionalistas no front Sul.
Mais recentemente, o sacerdote capixaba Almir dos Santos Pereira (1927-1996), alegre e até irreverente, permaneceu à frente de Nossa Senhora das Dores entre os anos de 1975 e 1996, tendo se destacado pela conservação do templo.
Desde o início do ano quem assumiu a paróquia sesquicentenária é o padre cerqueirense Sebastião dos Santos, que tem como vigário paroquial o padre Cristiano Robles. (GJ)