Nossos PRACINHAS rememorados
legenda: Esquecidos hoje, expedicionários de Avaré lutaram em batalhas decisivas na 2ª Guerra
Foto Fonte: Arquivo Gesiel Jr.Gesiel Júnior
Jovens, pobres e despreparados. No entanto, eles fizeram parte de uma tropa que dividia sua comida com os flagelados da guerra e as crianças entravam na fila antes dos soldados. Eram os brasileiros.
A crônica histórica redescobre hoje o perfil real da imensa maioria dos mais de 25 mil soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) enviados à Europa para juntar-se aos aliados ocidentais (Estados Unidos, Inglaterra e França) contra os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
De Avaré, 33 alistaram-se e poucos sabiam usar as armas recebidas do exército americano. Contudo, partiram com a cara e a coragem e sem treinamento e nem planejamento para lutar contra as ardilosas forças nazistas.
Convocados, os rapazes, todos de origem humilde, quase de repente, tiveram que aprender a combater e a conviver com o frio, o medo e com uma língua estranha.
Integraram a histórica tropa avareense o tenente Benedito Rodrigues, os sargentos Aubin Pinto de Toledo, Augusto Tobias e Olavo Merchet Mendes, os cabos Domingos Barreira Sobrinho, Francisco Verpa, Lázaro Alves e Pedro Luiz Dias da Fonseca, além dos soldados Antônio Antunes de Arruda, Arnold Bento Mariano, Avelino Pinto Carneiro, Benedito José Pereira, Edmundo Trench, Hugo Mazzoni, Isoldino Francisco, João Batista, João Dias da Silva, João Venâncio, Joaquim Aprígio Ferreira, Joaquim Moura Pinto, José Barbosa Pereira, José Fernandes Marques, José Silva, José Valim Filho, Luiz de Moura, Luiz Quartucci, Nicola Cortez Neto, Pedro Mariano da Silva, Pedro Nespeca, Rufino Gomes, Sérgio Bernardino, Vicente Honorato de Morais e Ulisses Padilha.
NO FRONT - A partida dos nossos expedicionários – chamados popularmente de “pracinhas” – ocorreu em setembro de 1944, quando integraram os 2º e 3º escalões, comandados, respectivamente, pelos generais Osvaldo Cordeiro de Farias e Olímpio Falconière da Cunha.
Ao aportarem em Nápolis, eles se juntaram ao 5º Exército norte-americano, comandado pelo general Mark Clark, que por sua vez fazia parte do 10º Grupo de Exércitos Aliados.
O objetivo maior na Itália, naquele momento, era manter o exército alemão sob pressão, de modo a não permitir que seus comandantes deslocassem tropas para a França, onde se preparava a ofensiva final.
No princípio de 1945 os avareenses participaram da conquista de Monte Castelo, Castelnuovo e Montese, mas em 2 de maio as hostilidades cessaram em terras italianas, em virtude da capitulação do último corpo de exército alemão.
Há 72 anos a guerra chegou ao fim na Europa. Na volta ao Brasil, os pracinhas foram recepcionados com grande entusiasmo popular. O fato, sem dúvida, precipitou a queda de Getúlio Vargas e o fim do Estado Novo, inaugurando uma nova fase de redemocratização na história do país.
FESTA DO EXPEDICIONÁRIO – Empolgado com o fim do conflito mundial, o padre Celso Ferreira, pároco de Avaré, registrou assim as comemorações ocorridas em 1945: “Depois de 5 anos de guerra, talvez a mais tremenda da história, no dia 8 de maio o mundo viu cair a paz com a rendição das forças alemãs e de sua aliada, a Itália. A cidade vibrou de alegria por todos os títulos de solidariedade e ainda mais porque nos campos de batalha tinha muitos filhos seus que voltariam então a encher de paz e alegria os lares paternos”.
Na noite de 8 de maio, segundo relato desse mesmo sacerdote, houve um espetáculo deslumbrante: “O que se via à frente da Matriz, onde se armou artístico altar diante do qual se cantou solene ‘Te Deum’ em ação de graças uma incalculável multidão se comprimia na praça”. Depois, no Largo São João, houve entusiástico ‘meeting’ com inflamadas orações patrióticas.
Com a volta dos soldados houve a Festa do Expedicionário em 14 de novembro. Nesse festivo dia foi celebrada missa campal pelo padre Salústio Rodrigues Machado na qual compareceram estudantes, autoridades e todos os expedicionários. Em seguida, inaugurou-se um monumento no Largo São João em homenagem póstuma ao soldado Sérgio Bernardino, que tombou heroicamente na Batalha de Montese, o mais sangrento dos conflitos enfrentados pela FEB. Houve também ali a bênção do avião que trazia o mesmo nome do único pracinha avareense morto em combate.
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*Do livro ‘Avaré em memória viva’, vol. II, de
Gesiel Júnior, Editora Gril, 2011