Dia 15 de agosto: 12 anos sem Dr. Paulinho, o Parteiro da Cidadania

Dia 15 de agosto: 12 anos sem Dr. Paulinho, o Parteiro da Cidadania

legenda: Dr. Paulinho, o querido médico avareense, nos deixou no dia 15 de agosto de 2007, aos 78 anos

Fonte da Foto: Arquivo pessoal

Há homens, cuja existência é marcada pela predileção divina. É o caso evidente da vida de Paulo Dias Novaes, o tão querido Doutor Paulinho. Um dos ícones da política do século 20 em Avaré, teve Paulinho Novaes a carreira toda envolvida pelo seu carisma pessoal, seja como médico, seja como cidadão, o que torna impossível descrevê-la em poucos minutos, tão marcante foi a sua benéfica influência em tantas e tantas vidas. A data de hoje, 15 de agosto, marca exatos 12 anos que Dr. Paulinho nos deixou.

Nascido em Avaré em 11 de novembro de 1928, no largo da Matriz recém-inaugurada, Paulo teve em sua ascendência nomes legendários da história da colonização do Vale do Paranapanema. Pelo tronco materno, trineto do Capitão Apiaí, patriarca da família Dias Baptista morto em ataque dos bugres quando desbravava os ínvios caminhos do Rio Pardo, entre suas raízes paternas encontramos a personalidade forte do Capitão Israel Pinto de Araújo Novaes, pioneiro vindo de Cotia, um dos povoadores e benfeitores do Rio Novo, onde aportou para nunca mais sair nos últimos anos do Império.

Seu pai, o cartorário José de Araújo Novaes, o popular Juca, foi casado com dona Judith, filha de Pedro Dias Batista, antigo prefeito de Itapetininga e irmã de Caio Dias Batista, secretário de Viação do governo Adhemar de Barros.

A política, portanto, fervilhava no lar dos Dias Novaes. Sexto de sete irmãos – Aparecida, Israel, Anna Candida (Candinha), Dalila, Maria Ignez e Judith (Dudu), Paulo era sobrinho de outro Paulo, o Araújo Novaes. No tio, desde menino espelhou-se admirando a capacidade do experiente cirurgião, respeitadíssimo como articulador político.

Nunca Paulo – ou Paulinho para diferenciá-lo do tio do mesmo nome – interessou-se em herdar o cartório do pai. Sempre anunciou que pretendia estudar medicina. O basquete e o futebol, na adolescência, foram seus esportes preferidos.

Esforçado nos estudos, depois de passar pelos bancos escolares de Avaré, conseguiu ingressar na Faculdade de Ciências Médicas, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, então capital federal, para onde se mudou em 1950. No Rio, além de ter o privilégio de morar no centro do poder, divertia-se num tempo sem violência, em que a cidade poderia ser visitada de fato como a Cidade Maravilhosa. Assistiu, no Maracanã, à maior tragédia do futebol brasileiro: a perda da Copa do Mundo para o Uruguai em 1950.

Em 1952, Paulinho enfrenta uma dura provação: a morte súbita e precoce do pai, Juca Novaes, vítima de derrame. Informado na faculdade, voltou a Avaré ainda a tempo de ver o genitor pela última vez. Foram, certamente, momentos difíceis para ele, sua mãe e irmãos.

Nessa época o estudante vinha para sua cidade apenas nas férias para ficar com a família. Numa visita a Itapetininga, berço de sua mãe e onde ele estudara quando adolescente, conheceu Margarida, a Margot, irmã de seus amigos César e José Paulo Piedade. Os dois gostavam de brincar que “bastou duas voltas no Largo dos Amores...” numa referência à praça onde se conheceram, no centro daquela cidade.

Começaram a namorar à distância – Paulo no Rio, Margarida em Itapetininga. Trocavam muitas cartas e nas férias o namorado ia para revê-la e passear no Largo dos Amores. Ficaram noivos, mas romperam. Margot estudava Canto Orfeônico em Capão Bonito e cantava no Clube Venâncio Ayres, em Itapetininga. No início de 1954, a Rádio Nacional de São Paulo instituiu um concurso para contratar um novo cantor ou cantora – era a escolha da “Estrela do Quarto Centenário de São Paulo”, que se comemorava naquele ano. Margot, ou Margarida, ou Maria Piedade – seu nome artístico – venceu o concurso e foi contratada pela Rádio Nacional, emissora de maior audiência na época, passando a se apresentar ao lado de estrelas como Angela Maria e Cauby Peixoto.

Margarida, entretanto, abandonou cedo a carreira, por influência do pai, o tropeiro Luiz do Amaral Piedade, que não via com bons olhos a ligação da filha – única mulher entre seis filhos – com o meio artístico.

Margarida e Paulo voltaram a namorar, e se casaram em 14 de julho de 1957, vindo morar em Avaré. Começaram então a formar a prole imensa de oito filhos: – Juca (José de Araújo Novaes Neto), nasceu em 1958; Paulo Dias Novaes Filho (Poio), ex-prefeito de Avaré, em 1960; Luiz César (Ize) em 1961; Margarida (Maída) em 1962; Lúcia em 1963, Lucila em 1968; Ricardo em 1970 e Pedro Luiz (Puí) em 1973.

Paulo, já tratado pelo povo carinhosamente como Doutor Paulinho, começa de fato a suceder o tio Paulo Araújo Novaes nas duas carreiras – como médico, tornou-se um bem-sucedido obstetra. Acompanhou milhares de partos na cidade e na região. Isso impulsionou a carreira política. Elegeu-se vereador em 1959 e foi reeleito em 1963 com votações extraordinárias. Enquanto legislava, o tio Paulo era o prefeito e seu irmão Israel Dias Novaes era deputado estadual, elegendo-se depois para a Câmara Federal. Nesse período desempenhou as funções de diretor clínico da Santa Casa de Misericórdia. Como esportista, presidiu a diretoria do São Paulo Futebol Clube de Avaré.

Após a morte do Dr. Paulo Novaes, em 1970, Paulinho elegeu-se vice-prefeito na chapa encabeçada por Misael Euphrasio Leal. Em 1973, quando Misael esteve em viagem oficial à Espanha, ele assumiu o governo municipal durante 30 dias. Em 1976, voltou a concorrer à Câmara de Vereadores e mais uma vez foi o recordista de votos. Em 1977 e 1978 novamente preside o Legislativo.

Durante a abertura política, já no PMDB, em 1982 Doutor Paulinho foi aclamado candidato a prefeito e venceu o pleito conquistando a maior votação proporcional da história eleitoral de Avaré.

Sua administração privilegiou o saneamento básico e a infra-estrutura urbana. Com apoio político do governo estadual transformou Avaré em sede regional. Lutou e construiu o novo aeroporto, a nova rodoviária, o novo pontilhão da Fepasa, a Central Municipal de Alimentação (Cozinha Piloto), além de abrir avenidas, interligar bairros e instalar mais escolas e postos de saúde na periferia. Instalou também a Delegacia da Mulher e o Corpo de Bombeiros. Na área da cultura inaugurou a Biblioteca Municipal e a Casa de Artes e Artesanato, mas o seu maior feito foi, sem dúvida, a criação da Feira Avareense da Música Popular (Fampop), o mais importante festival de MPB realizado no interior do Brasil.

Em 1990, candidatou-se à Câmara dos Deputados, ficando na terceira suplência. No ano seguinte, tornou-se o superintendente do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe), conseguindo implantar no órgão o programa de descentralização para permitir melhor o atendimento dos funcionalismo no interior.

Assumiu em novembro de 1992 a vaga na Câmara Federal com a morte do deputado Ulysses Guimarães. Como congressista, doutor Paulinho presidiu a CPI da Previdência Social, que resultou na prisão de vários fraudadores responsáveis pelo desvio de bilhões de reais dos cofres da Previdência Social.

Cumprido o mandato de parlamentar e não tendo obtido a reeleição, voltou a Avaré onde continuou a clinicar. Em 1996, elegeu-se vereador pela quinta vez, tendo com sua larga experiência defendido os interesses populares da tribuna da Casa.

Clinicou enquanto a sua saúde permitiu. Embora ultimamente afastado das lides partidárias, os políticos mais jovens sempre iam em busca de seus conselhos, desejosos de com ele aprender a arte da boa política.

Espirituoso, dono de bom humor incomparável, Doutor Paulinho divertia-se quando o apresentavam como ex-vereador, ex-prefeito e ex-deputado, enfim, aquele que fez praticamente tudo em Avaré.

O que, em razão de sua modéstia ele sempre resistiu a aceitar e entender é que, mesmo tendo exercido com invejável dignidade a função pública, nunca poderá ser considerado “ex” na condição de modelo de homem público. Paulo Dias Novaes, passa à história, afinal, como o amado amigo, o perene médico e, sobretudo, como o nosso imortal cidadão.

Por Gesiel Júnior

 

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